A tese de Doutorado de autoria de Daiani Barboza e orientada pela Professora Andréa Vieira Zanella foi defendidada no ano de 2012 e tem o seguinte resumo:
Uma cidade é feita de sons, imagens, linguagens, arquiteturas, subjetividades, trajetos, contradições, (im)possibilidades. Considerando a polifonia que caracteriza os espaços urbanos, esta pesquisa de cunho etnográfico teve como escopo as relações dos catadores de material reciclável (CMR) com a/na cidade. Os objetivos foram: analisar as imagens da cidade produzidas pelos CMR; identificar os movimentos de resistência dos CMR; investigar em quais condições os CMR estabelecem relações estéticas com a cidade. A tese sustentada é de que os CMR, em suas andanças, estabelecem relações estéticas com/na cidade, resistem e afirmam cotidianamente seu lugar na tessitura urbana. Essa perspectiva estética, fundamentada nas contribuições de Bakhtin e seu círculo, é entendida como relação e tem como pressuposto o “acabamento” que o outro nos dá, posto que é nas relações com esses múltiplos “outros” que nos constituímos inevitavelmente. Participaram da pesquisa seis CMR que habitam três bairros de periferia de uma cidade de médio porte no sul de Santa Catarina – Brasil. Para a produção de informações, cada sujeito recebeu uma câmera fotográfica para registrar imagens das suas relações com a urbe. Em outro momento, em suas residências, foram realizadas conversas informais acerca das narrativas fotográficas por eles produzidas. Outro procedimento para produção de informações foi o caminhar com os CMR pelas vias em que costumam transitar ao realizar suas atividades de catação. As informações coletadas foram registradas por meio de videografia e anotações em diário de campo. Foi realizada análise de discurso das narrativas fotográficas e das andanças pela cidade a partir das contribuições de Vigotski, Bakhtin e autores contemporâneos que trabalham com o referencial desses autores. A pesquisa possibilitou evidenciar as lutas cotidianas dos CMR, as dificuldades que enfrentam, como resistem e criam estratégias de sobrevivência, o modo como habitam a cidade e como esta os constitui. As imagens que produziram falam de suas trajetórias na cidade, do trabalho de catação, do lugar de moradia, de suas condições de vida; falam também de suas relações afetivas, bem como sobre o percurso dos resíduos urbanos que coletam e como os significam. Cada objeto que encontram é destinado à reciclagem, reutilizado ou descartado a partir das relações estéticas estabelecidas com eles. Entre as principais dificuldades que encontram no cotidiano citadino estão: trabalho insalubre e a condição de informalidade, trabalho individual, problemas com a saúde, conflitos e dificuldades no trânsito. Os CMR vivem dos restos da sociedade de consumo, trabalham sob a ótica da sustentabilidade e cumprem um importante papel social em prol da defesa do meio ambiente, porém não são reconhecidos pelo trabalho que fazem. Em virtude dessa condição, a pesquisa permitiu afirmar que, no cenário urbano, compete às políticas públicas na área ambiental, social e de saúde levar em conta o modo como os CMR habitam a cidade para contribuírem com a potencialização da sua cidadania em suas múltiplas facetas. Fundamental, para tanto, é o reconhecimento de que tais políticas públicas precisam ser pensadas em inesgotável diálogo com esses sujeitos, considerando as características das relações que estabelecem com as cidades evidenciadas nesta pesquisa.
e o texto completo pode ser baixado em: http://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/96214